Um artigo de
Milton Golombeck
Vivemos em uma sociedade na qual são valorizados predominantemente as
aparências e o glamour. Modelos, cantores, atores e atletas se sobrepõem,
com seus valores, a outros valores essenciais ao progresso da condição
humana e à melhoria da qualidade de vida. Mas o problema não é apenas
brasileiro; é fenômeno universal, com algumas raras exceções.
Mas não se pode esquecer que basicamente tudo o que utilizamos em nosso
dia a dia - meios de transporte, tais como rodovias, ferrovias, aeroportos,
edifícios residenciais, espaços para abrigar hospitais, escolas, centros
culturais etc., tudo isso são projetados pela inteligência de arquitetos e
engenheiros. A Engenharia, em meu entendimento, é a maior responsável
pelo progresso da humanidade em todos os campos do conhecimento
humano.
O futuro não depende das celebridades, muitas das quais alegram e
satisfazem o nosso dia a dia, mas, sim, dos cientistas, pesquisadores em
todas as áreas, tecnólogos e engenheiros que continuam a construir as
condições para um futuro melhor.
Na mesma semana em que os jornais, revistas e TVs gastaram páginas e
horas para mostrar e comentar as roupas e joias usadas na entrega do Oscar,
foi dado o prêmio Russ Prize - equivalente ao Nobel de Engenharia - para
os engenheiros Earl Bakken e Wilson Greatbatch. Contudo, nenhum
comentário apareceu na mídia a respeito disso. E essas personalidades,
foram os inventores do marca-passo. Graças a elas, atualmente mais de 4
milhões de pessoas estão vivas. São instalados mais de 400 mil marcapassos
por ano no mundo.
Na inauguração das grandes obras de Engenharia costumam aparecer as
autoridades eventualmente de plantão. Mas os nomes dos engenheiros e dos
projetistas que as projetaram e construíram, invariavelmente são
negligenciados e esquecidos. Quando muito, são divulgados nos nomes das
construtoras.
Nos folhetos de venda dos imóveis e coquetéis de lançamentos aparecem os
paisagistas, decoradores de interiores e imobiliárias. Mas não aparecem os
nomes das empresas de Engenharia envolvidas nos projetos de estruturas,
fundações e instalações. A Engenharia é encarada quase como um mal
necessário.
Só somos lembrados quando ocorrem catástrofes e acidentes em obras.
Nestas horas, todos querem identificar os engenheiros responsáveis. É
nossa, a responsabilidade de mudar este quadro, valorizando nossa
profissão, fazendo com que as conquistas da Engenharia sejam
reconhecidas e deixem de ficar em terceiro plano. Esta falta de
reconhecimento e valorização tem consequências diretas nas remunerações
dos serviços de Engenharia.
As imobiliárias, que não tem nenhuma responsabilidade pelas edificações,
nem pelo seu desenvolvimento, recebem 6% do valor geral de vendas
(VGV) enquanto todos os projetos de engenharia da obra somados
representam no máximo 2% do VGV. Pior: ninguém discute os gastos com
corretagem. Em compensação discutem os custos de projeto e das soluções
de Engenharia. Trata-se de uma total e absoluta Inversão de Valores!
Com o crescimento da economia no Brasil, cada vez mais a nossa profissão
será necessária. Com mais de 40 anos de atividade, passando por vários
planos econômicos, posso afirmar que escolhi a profissão ideal. Precisamos
de mais engenheiros e tecnólogos urgentemente. A valorização da profissão
fará com que mais estudantes se interessem em entrar num dos campos
mais desafiadores e gratificantes das atividades humanas: a Engenharia!
*Milton Golombek é presidente da Associação Brasileira de
Empresas de Projetos e Consultoria em Engenharia Geotécnica
(ABEG
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